Falámos com Cristina Domingues, engenheira eletrotécnica formada pelo Instituto Superior Técnico, atualmente a trabalhar em Londres.

Estudaste engenharia eletrotécnica e hoje trabalhas em programação, código. Trabalhaste numa das Start Ups Portuguesas mais conhecidas, a Uniplaces e hoje vives em Londres, foi isto o que sempre sonhaste para a tua carreira profissional?

Bem, a verdade é que eu nunca tive propriamente um sonho, um objectivo, para a minha carreira profissional…
Desde pequena que os meus pais me incutiram a ideia de que era importante ter boas notas para “não fechar portas”. E por isso, sempre pensei que se fosse estudando e tendo boas notas na escola, um dia haveria de poder escolher fazer qualquer coisa que na altura me agradasse.
E assim foi!

Quais foram os fatores determinantes para chegar aqui?

Ao longo da minha vida académica e profissional fui tendo de fazer algumas escolhas: a área de estudos no secundário, o curso, o primeiro emprego…
Quando olho para trás, identifico três momentos importantes que no fundo me levaram a fazer as escolhas que fiz.
Escolhi a área de Ciências e Tecnologias porque gostava muito de Matemática e de Física, e ao mesmo tempo era a área mais “versátil”: dali poderia escolher praticamente qualquer curso. Por isso esta decisão foi muito óbvia e nem pensei muito nela.

O primeiro momento importante, foi na escolha do curso. Em conversa com um amigo, ele falou-me do curso de Engenharia Electrotécnica. Disse-me que o curso tinha uma forte componente de Matemática, Física (o que me agradou logo) e de programação (coisa de que eu nunca tinha ouvido falar!), e que tinha uma taxa de empregabilidade de 98%. Ora, pareceu-me uma óptima opção! E acabou mesmo por ser uma óptima opção, porque gostei muito de aprender o que aprendi, em particular, de programação.

O segundo momento importante foi na escolha do primeiro emprego. Fui a um evento chamado Pitch Bootcamp, que juntava alunos prestes a acabar o curso e empresas. Primeiro as empresas faziam uma apresentação sobre si e depois os alunos apresentavam-se às empresas através de um pitch (uma breve conversa de 5 minutos).
Uma das empresas que estava neste evento era a Uniplaces, e fiquei fascinada com a apresentação deles: pareceu-me um sítio muito bom para trabalhar, com uma equipa jovem e motivada, e com muita vontade de crescer.
A verdade é que quando fui à entrevista na Uniplaces, não sabia bem para que posição é que me estava a candidatar. Acabei por falar com pessoas de três equipas diferentes até decidirmos em conjunto que eu ia ser Product Manager. Mais tarde acabei por mudar para Web development (ou seja, programar o site da Uniplaces).

O terceiro momento importante foi quando ainda trabalhava na Uniplaces e me juntei à recém formada equipa de Data Science.
Foi aqui que comecei a trabalhar em Data Science, que no fundo é o que faço hoje, e conto fazer por mais algum tempo!
Data Science é um campo muito vasto! Mas tentando dar uma breve definição, é a utilização de dados e algoritmos para aprender coisas novas, e criar produtos ou soluções que resolvem problemas de forma eficaz e eficiente. Por exemplo, quando um computador reconhece caras em fotografias, ou traduz um texto de uma lingua para outra, ou quando o Spotify nos recomenda o que ouvir a seguir, tudo isto está no domínio da Data Science.

Estas várias experiências que tive na Uniplaces foram muito valiosas! Pude trabalhar na mesma empresa a partir de 3 perspectivas diferentes, perceber o que realmente gosto e ao mesmo tempo desenvolvi uma “skill” muito importante, que é a da comunicação.

Como é o teu dia a dia profissional?

Aqui em Londres trabalho numa empresa que se chama Dressipi. Esta empresa trabalha com lojas de roupa no Reino Unido e noutros países, que fazem vendas online. Basicamente, as lojas dão-nos dados sobre o que é que os seus clientes compraram e nós desenvolvemos algoritmos que são usados para recomendar aos clientes peças de roupa de que eles vão gostar.
Estamos sempre à procura de maneiras para melhorar os nossos algoritmos, portanto, de uma forma geral, é isso que eu faço no meu dia a dia.
No processo de melhorar os algoritmos posso fazer mil coisas diferentes! Análises de dados para ganhar conhecimento sobre o problema que tenho em mãos, ter ideias de algoritmos novos e saber justificá-las com alguma Matemática, Estatística ou Lógica, programar versões simples dos algoritmos para podermos testar se eles funcionam em pequena escala, programar versões mais complexas dos algoritmos que funcionem em grande escala (no fundo que “aguentem” uma grande quantidade de dados e que nos dêem respostas em tempo útil), monitorizar se os algoritmos estão a recomendar as coisas certas aos clientes…

O que é mais desafiador, estudar engenharia eletrotécnica ou começar uma vida nova no Reino Unido?

Definitivamente começar uma vida nova no Reino Unido! Como gostei de tirar o curso, esses desafios não me custaram muito. Enquanto que estar longe dos amigos e da família custa bastante…

Onde vais buscar a tua inspiração?

Aos meus avós e aos meus pais.
O meu avô foi Professor no Técnico durante muitos anos e um Matemático muito bom da nossa praça! Muitos dos Professores que fui tendo no Técnico foram alunos dele, e todos se lembram dele como um Professor fantástico.
A minha avó também estudou Matemática e ainda Engenharia Geográfica. Para além de mim é a única engenheira na família! Tenho muito orgulho nela porque há 70 anos atrás não havia muitas mulheres a tirar cursos superiores, nem a trabalhar.
Os meus pais são os dois médicos e também muito bons nas suas áreas.
No fundo a minha inspiração são os exemplos de bons profissionais que tenho na família!

Na tua opinião, quais as competências fundamentais para se ser “um bom programador”?

Acho que qualquer pessoa tem potencial para ser um bom programador. Aliás, penso que programar vai ser como falar Inglês: toda a gente há-de aprender a programar na escola e há-de ser uma competência quase obrigatória para arranjar trabalho em certas áreas.
E depois também há muitos tipos de programação diferentes, que requerem competências diferentes…
Mas de um modo geral, diria que é importante concentração, bom sentido de abstracção e perspicácia.

O que dirias a um jovem que quer seguir uma carreira na programação?

Penso que todos os jovens deviam ter algum contacto com programação antes de decidirem que curso querem seguir.
E infelizmente, nos currículos académicos até ao 12º ano, a programação é praticamente ignorada!

Portanto, para quem nunca teve alguma experiência com programação, diria que é importante fazer uma pesquisa online para aprender um pouco sobre programação.
Felizmente, há muitos recursos online onde se pode aprender a fazer mil coisas na área da programação!

E para quem já teve alguma experiência com programação e gostou, diria “go for it!”. É sem dúvida uma escolha de carreira vencedora, na medida em que há menos pessoas a saber programar do que aquelas que são precisas. Ou seja, arranjar trabalho bem remunerado nunca há-de ser um problema. E também é interessante e divertido, mas penso que sou suspeita 🙂

Gostou da entrevista a Cristina Domingues? Conheça todas as outras entrevistas aqui.

Cristina Dominguez

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